Eu sou o vento plangente que por vezes assalta janelas embrenhando-se por frestas desamparadas, ansiando silenciar de tanta dor que já colheu. Como não sou mulher de arredar, teimo, peito, cismo mesmo. Abro o riso debochado e vou atropelando desenfreadamente esta vida louca, seguindo a cadência das tempestades de verão. Vale à pena ser recorrente em busca da própria sina. E eu que pensei que era frágil, que nada, sou forte como uma gameleira centenária ao sol do meio-dia.
Eu sou também a garoa fina, a que deixa gotículas de si por onde passa ou enfeitiçica o cristal dos olhos amigos, salpicando esperanças ou esfumaçando mais ainda a dita, sempre suspensa em outra dimensão. Persistindo em relacionamentos, adubando amigos, caindo com fartura em cima do telhado embalando os sonhos que estão por vir. Como sou mulher de desencontros, transito resilente mundo a fora vagabundeando meu coração. Capino músicas melancólicas no violão, distraio amigos com os versos que escrevo e assim vou me encontrando em tudo o que amo. E eu que pensei que era triste, que nada, sou intensa e colorida tal qual o reflexo das gotas nos vidros dos carros.
Quem eu sou? Eu sou o avesso e o tudo.
Déia Reis
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