"Dói-me qualquer sentimento que desconheço; falta-me qualquer argumento não sei sobre o quê; não tenho vontade nos nervos. Estou triste abaixo da consciência. E escrevo estas linhas, realmente mal-notadas, não para dizer isto, nem para dizer qualquer coisa, mas para dar um trabalho à minha desatenção.
Vou enchendo lentamente, a traços moles de lápis rombo - que não tenho sentimentalidade para aparar -, o papel branco de embrulho de sanduíche, que me forneceram no café, porque eu não precisava de melhor e qualquer servia, desde que fosse branco. E dou-me por satisfeito."
Bernardo Soares
(Heterônimo de Fernando Pessoa)
Do livro do Desassossego
Nenhum comentário:
Postar um comentário