quinta-feira, 26 de junho de 2014

O PENSAMENTO VIVO DE FERNANDO PESSOA

     Fernando Antonio Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa, em 13 de Junho de 1888 e morreu no ano de 1935, com então 47 anos. Foi um grande poeta, filósofo e é considerado um dos melhores escritores da lingua portuguêsa e da literatura universal.
     Publicou apenas 04 livros ao longo de sua vida e traduziu várias obras inglesas para o português e obras de língua portuguesa para o inglês. Língua que falava muito bem, pois passou parte da infância e adolescência na África do Sul por causa do casamento de sua mãe.




     O Poeta criou vários heterônimos e semi heterônimos para expressar a sua arte, entre eles: 

Álvaro de Campos
De nacionalidade portuguesa e engenheiro de educação inglesa, nunca se sentia em casa e sim um estrangeiro em qualquer lugar do mundo.Seu caráter é crítico e revoltado e se expressa com uma lignuagem livre e radical.

TABACARIA

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo.
que ninguém sabe quem é
( E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes
e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.

Alváro de Campos

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