Pareço um desconexo boneco de marionete. Quem dita à direção que devo seguir são vocês. Estou debilitado, fragilizado e por detrás desta capa de todo poderoso, sou extremamente dócil e carente de atenção. Um cordeirinho. Mas por favor, não esqueçam que ainda tenho vontade própria, por isso, preciso ir à busca do sol quando o coração pede. Não amarrem minhas pernas, não me castrem, pois tenho necessidade de correr e embora minha mente seja cativa de uma doença, desgraçada moléstia, o espírito tem asas e é livre e corre como se fosse decolar. Às vezes fico tão leve que acredito piamente que posso voar. Quem sabe eu consiga um dia os meus sonhos alcançar?
Tem momentos que me encontro tão mal, que ao abrir os olhos, só consigo ver o céu sombrio do quarto onde moro. Nesses dias me deparo com a morte. Nada em mim tem vida, nada se move. Meus pensamentos são confusos, sem racionalidade, só emoção. Emoção da doença, esse fogo ruim que me queima impiedosamente. Braços, pernas e tronco se amotinam e a rebelião se instala. É guerra! Já não obedeço aos meus membros, coisas minhas que são, se amotinam, há outro capitão no comando e sou apenas um figurante, o vilão, vivendo uma vida de ficção.
Estou tão consumido por essa enfermidade que nem meus olhos tem vida, nem mesmo eles se expressam, já que vivem perdidos na Grande Escuridão. E para quê? Para procurar e nunca encontrar? Para andar nos corredores vazios da minha alma? Sinto passos, escuto vozes e não compreendo. Às vezes são amigos, às vezes meus filhos, mas sinceramente não me importo. Não dou a mínima se é Maria, Artur, Carlos ou alguém de outra dimensão tomando meu corpo sem aviso, sem boas intenções, querendo armar confusões e me afastar mais ainda de mim mesmo e da minha missão. Esse ser obsequiador que vive grudado em mim, impede de me despir deste véu ingrato e incompreendido que é a loucura, me levando mais longe ainda do amor. Do amor que sinto e não consigo manifestar e do sublime amor universal que preciso tanto para me regenerar. É... É verdade, escuto vozes. Vozes do além, mas às vezes não tem ninguém. Nem mesmo eu. Somente meu corpo e os olhos vidrados - ai que dor - essa grande casca oca e um tanto enorme de solidão. Tem culpa, arrependimento, remorso. Meu ser clama por atenção, só um pouquinho de amor e do verdadeiro perdão que acolhe sem distinção.
Escuto as batidas do meu coração. Tenho tanto tempo para pensar. Há marcas tão profundas que fica difícil de sonhar. Sabe, na estrada que percorro o que não me falta é tempo para refletir, mas este vazio louco que é a minha vida não me deixa prosseguir rumo ao céu, de encontro à luz, cair em braços que preciso me redimir. Ai... Meu deus... É tudo tão difícil quando vivemos no umbral, submergidos.
Pareço um cão bem adestrado. Você me diz senta e eu sento. Você ordena que eu levante e eu pulo da cama. Você me diz deita e eu deito e de vez em quando até rolo e abano o rabinho. Já sei de todas as suas regras, meus horários de alimentação são rigidamente prescritos. Ninguém pergunta se desejo fazer isto ou aquilo. Tudo está sempre muito organizadamente controlado dentro da sua razão. Entendo e respeito suas leis. A parte boa em mim sabe que é para o meu bem estar, mas se em algumas situações eu me rebelo e GRITO e choro e QUEBRO objetos e BATO portas e até te agrido, desculpe-me, sinceramente, não foi de propósito. Entenda de uma vez por toda, não sou eu que me controlo. Infelizmente não posso prometer ter sempre as reações que você deseja e espera que eu tenha. Sabe, é este mal que me aflige. A loucura, ô Coisa ruim.
Sei que é difícil de entender a loucura. A maioria das pessoas me considera descartável e muitas das vezes, sou mesmo insignificante diante do mundo. Se até eu me considero pequeno, ignóbil, quem dirá os outros ditos “normais”? Vivemos trancados em celas ou vagamos perdidos em ruas com nomes de consolação. Acredite, é uma existência triste, sem luz, sem porto para ancorar, sem amores para recordar. Apenas este céu estrelado que traz uma sensação de dor, como uma flecha certeira gravada funda no coração. Mas nada pode mudar a minha essência de SER de LUZ. Nem o que eu penso de mim e nem o que você pensa de mim. Sou um ser humano criado à imagem de DEUS e com um propósito designado por ELE, por mais que pareça a todos uma maldição. Existe um universo dentro de mim querendo se expandir. Rumo ao horizonte, rumo ao céu, rumo, enfim, a vida que Deus quer para mim.
Georgete Reis
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